FIFA faz países gastarem e fica com o lucro

Postado por Cabeça De Touro F.C. quarta-feira, 9 de março de 2011

EXCLUSIVO: "Fifa faz países gastarem e fica com o lucro", alerta jornalista-candidato
Grant Wahl, que lançou candidatura à presidência da Fifa, manifesta preocupação com os rumos da organização da Copa de 2014 no Brasil


Leonardo Bertozzi

O jornalista Grant Wahl tem 37 anos e viu apenas dois presidentes no comando da Fifa: o atual, Joseph Blatter, no cargo desde 1998, e seu antecessor, João Havelange, que ficou 24 anos à frente da entidade máxima do futebol mundial. Insatisfeito com a postura de Blatter no comando da organização, decidiu fazer barulho e lançar sua candidatura como opositor do suíço, na eleição programada para junho.

Oficialmente, Wahl precisaria apenas da indicação de uma federação filiada à Fifa para concorrer. A candidatura tem uma boa dose de escárnio, mas, como admite o próprio jornalista da Sports Illustrated, levanta questões que o mundo do futebol precisa discutir.

Em sua plataforma de governo, Wahl defende o uso de vídeo para tirar dúvidas sobre bolas na linha do gol. Também quer que os árbitros sejam obrigados a explicar publicamente suas decisões em campo, e promete acabar com o limite de árbitros por país na Copa do Mundo, para que estejam nela os melhores em absoluto. Pede ainda que a regra seja mudada para acabar com o cartão amarelo para jogadores que tiram a camisa na comemoração de gols.

Sobre questões administrativas, o "candidato" promete limitar o número de mandatos a dois de quatro anos, e ainda tornar públicos todos os documentos oficiais da Fifa. E quer uma mulher no cargo de secretária-geral.

São reflexões importantes, que fazem acreditar em uma preocupação genuína com a melhora dos rumos do futebol, e não em uma tentativa de autopromoção. De qualquer maneira, Wahl tem sido bastante procurado para declarações - recentemente falou ao colega Rodrigo Bueno, na Folha de S.Paulo.

Nesta entrevista ao blog, Grant Wahl aborda outro tema delicado quando o assunto é Fifa: a organização da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, e a farra de dinheiro público nas obras nos estádios. "A Fifa faz os países gastarem dinheiro e embolsa o lucro", lembra.

Blog: As questões envolvendo a Fifa serão imensas no Brasil pelos próximos anos, por causa da Copa de 2014. O que devemos temer?

Grant Wahl: Acho que o Brasil deveria se preocupar com a quantidade de dinheiro que está sendo gasta em estádios para a Copa do Mundo. Os orçamentos já foram excedidos em grandes somas, e a chance de corrupção é enorme. Sugiro que quem se importa com o Brasil 2014 leia esta matéria (em inglês).

Blog: Há um tema controverso envolvendo estádios novos ou reformados para a Copa. O estádio do Morumbi foi rejeitado sob bases políticas, e agora espera-se o uso de dinheiro público na construção do estádio do Corinthians, para que ele esteja apto a receber o jogo de abertura. Muitos brasileiros sentem que as exigências da Fifa quanto aos estádios são exageradas. O Maracanã será praticamente reconstruído, mesmo depois de uma grande reforma para os Jogos Pan-Americanos de 2007. Qual é sua opinião a respeito?

GW: A exemplo do que aconteceu na África do Sul, eu me preocupo com o dinheiro público em excesso usado nos estádios de Copa do Mundo, quando poderia ser investido na educação, no combate à pobreza e na segurança para o país. A Fifa permite que os países gastem seu dinheiro na Copa do Mundo, e então ela própria embolsa uma enorme quantia, como o US$ 1,2 bilhão de lucro com a Copa da África do Sul em 2010.

Blog: O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, espera um dia concorrer à presidência da Fifa. Ele está no cargo desde 1989 e se comporta como dono do futebol brasileiro. Teixeira, genro de João Havelange, transformou a Seleção Brasileira num fenômeno de marketing, com grandes contratos publicitários, mas a organização do futebol de clubes ainda é muito pobre, especialmente nas divisões inferiores. Qual é a imagem internacional de Teixeira?

GW: Teixeira é conhecido como um homem poderoso dentro da Fifa. Ele ajudou a transformar a Seleção em uma máquina de dinheiro, mas, sendo um "insider" da Fifa, ele também está sujeito a questões sobre se ele age limpamente na área da política esportiva.

Blog: Você começou uma campanha para a presidência da Fifa. Qual seria sua primeira medida como presidente caso conseguisse?

GW: Eu começaria um "Wikileaks" na Fifa, tornando público cada documento interno, para que possamos decidir o quão limpa ou suja é a Fifa. Também contrataria uma investigação independente na Fifa, usando as diretrizes da Lei Sobre a Prática da Corrupção no Exterior (Foreign Corrupt Practices Act, nos Estados Unidos).

Blog: Você fala sério sobre a candidatura à presidência da Fifa?

GW: Quero que as pessoas tenham senso de humor sobre a minha campanha, porque é incomum para uma pessoa na minha posição concorrer à presidência da Fifa. Mas falo sério sobre as questões levantadas. A Fifa precisa de grandes mudanças, mudanças que não virão de alguém de dentro. Sou absolutamente "de fora".

Blog: Você acredita que há uma maneira de organizar um método livre de política para escolher as sedes das Copas do Mundo?

GW: Provavelmente não, mas há uma maneira melhor. Acredito que todas as nações que fazem parte da Fifa deveriam votar para escolher as sedes, assim como fazem com o presidente da Fifa.

Blog: O jornalista britânico Andrew Jennings é um crítico feroz das federações esportivas. Ele alertou sobre corrupção envolvendo membros da Fifa antes do escândalo envolvendo venda de votos para as eleições das sedes de 2018 e 2022. Você acredita que as pessoas deveriam dar mais crédito a este tipo de matéria?

GW: Andrew Jennings tem feito um ótimo trabalho investigativo sobre a Fifa ao longo dos anos. As pessoas lhe deram o crédito pelo trabalho feito, creio.

Blog: Você acha que o Sr. Joseph Blatter gosta minimamente de futebol?

GW: Não conversei com ele sobre isso, mas acredito que goste. Não acho que Blatter seja um cara mau, pessoalmente, mas tenho grandes preocupações sobre sua liderança na Fifa.

Blog: Por que você acha que uma mulher seria uma melhor secretária-geral da Fifa, como defende em sua campanha?

GW: Acho importante que as mulheres tenham mais influência na Fifa, assim como ganharam mais influência no Comitê Olímpico Internacional nos últimos anos. Como presidente da Fifa, terei controle sobre a nomeação do secretário-geral, que é o cargo nomeado de maior importância. É necessário haver mais diversidade e igualidade na organização do esporte mais popular do mundo.

Blog: Por que você quer que os árbitros defendam em público suas decisões polêmicas?

GW: Considero importante que os árbitros expliquem decisões polêmicas para que o público não fique no escuro. É uma prática comum nos esportes americanos, como a NFL e a NBA. Transparência é uma coisa boa!

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