Meu time de futebol, em São Paulo, não é o Santos. Sou mais Palmeiras ou São Paulo. Porém o Santos, por ter sido o berço de Pele a quem muito admiro pelo fato de me ter presenteado com o último gol do 5x2, contra a Suécia, em Gottemburg, em 28 de junho de 1958, dia de meu aniversário, quando nos sagramos, pela primeira vez, campeões do mundo, me faz torcer por ele, e com contentamento, em várias vezes nas disputas internacionais nas quais se empenhou. Vibrava com as jogadas de Dorval, Mengálvio, Pele, Coutinho e Pepe. Era uma delícia para os olhos quando a televisão começou a fascinar o mundo. Há dois anos, começou a maravilhar o futebol nacional com um bando de garotos, entre eles o Neymar, o Paulo Henrique Ganso e o Pato, que o puseram nas cabeceiras do campeonato paulista. Mas, o sucesso subiu à cabeça do Neymar, em forma de um corte de cabelo do último dos Moi-kanos, o vôo do Ganso passou a ser muito baixo e a ausência do outro, pagou o pato. O resultado é que, neste último campeonato brasileiro, ganho pelo Corinthians, o time peixeiro chegou a visitar a zona de rebaixamento, com alguns dos mesmos elementos que haviam, há dois anos, maravilhado seus torcedores. Perdeu para times fracos e empatou com outros mais fracos, ainda. Eis que, por circunstâncias especiais, chegou a semi-finalista dos campeões do mundo, seguindo para Yokoama, no Japão, para enfrentar o campeão japonês do qual ganhou fácil, por 3 a l e esperar o Barcelona que viera de uma vitória, também fácil, na outra semi-final, sobre o campeão do Katar.
Sei que os jogadores santistas tinham, no íntimo de cada um, o receio de jogar contra o ex-time de Ronaldinho Gaúcho que vem arrasando com seus adversário, na Espanha e na própria Europa. Nem por isso deixaram de se considerar craques do mundo e, de certo modo, desprezar, o Barcelona. A Imprensa mandou tocar os clarins. As TVS prepararam suas transmissões e o mundo passou a aguardar o grande jogo do último domingo, a partir das 6h30 da manhã, para os donos do Brasil, e das 7h30 para os pobres coitados que não abraçaram o terrível horário de verão. No Brasil, nos jogos em que um time está vencendo o outro com folga e habilidade, ouve-se o coro dos seus torcedores gritarem "Olé". Trata-se de uma expressão espanhola usada pelos toureiros quando dão um drible no touro. No jogo do último domingo, onde as duas maiores torcidas eram as do Santos e as do Barcelona, o baile, iniciado logo na primeira chifrada da tourada, pelos jogadores espanhóis, não foi saudado por nenhum "Olé". É que o jogo todo foi um "Olé" só. O Santos foi um peixe elevado à condição do Touro Ferdinando, de Walt Disney, incapaz de ferir, mesmo que de leve, o pano vermelho do toureiro.
Observem que o nosso representante, em nenhum momento conseguia, intencional-mente, ter a posse de bola. A estatística mostrava o Barcelona com 76 % e o Santos com 24%. A marcação era cerrada e raras vezes houve uma oportunidade, todas desperdiçadas, para que a bola caísse nas redes adversárias. Os peixeiros expuseram de tal modo suas redes aos touros espanhóis que, por quatro vezes, duas do maior craque atual do mundo, Messi, foram estupradas pelos barcelonicos. “Talvez Marcelinho Paraíba, pelo que dizem, tivesse conseguido fazê-k». Foi o 4 x O mais sonoro que já vi. Fico triste e comungo do abatimento de Muricy Ramalho que só teve que reconhecer a incrível superioridade do time espanhol. Fico abatido ante a repercussão internacional do acontecimento, mas foi a morte mais anunciada de que tivemos notícia.
Vamos pensar em nosso campeonato pernambucano, onde o Náutico e o Sport devem se preparar para enfrentar o Santos que, depois das quatro chifradas que levou, vem de molho, pronto para descontar.
REINALDO DE OLIVEIRA
Membro da Academia Pernambucana de Letra e dos Conselhos de Cultura do Estado e do Município
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